Minha História com a Revista Videogame
Minha experiência com as revistas de videogame começou em torno de 1995. Esse foi um ano de muitas novidades no que diz respeito a computação, com a chegada do Windows 95 e da internet discada de longa distância. Também tínhamos uma nova moeda, o Real, implantado no país no ano anterior. Foi em meados desse ano que ganhei meu primeiro 8 bits, um clone de nintendinho chamado Prosystem-8 da Chips do Brasil. Eu tinha apenas 12 anos, e aqueles jogos simples da terceira geração pareciam mágicos para mim. Nessa época eu costumava pegar algumas fitas com um primo meu que morava perto de casa, visto que ele já tinha um Phantom System desde o ano de 1992. Foi ali na casa dele que tive meu contato com a terceira geração pela primeira vez. Fiquei muito impressionado com aquilo tudo.
Os gráficos, os sons, a jogabilidade. Parecia coisa de outro mundo. Depois da aula, vez por outra, costumava ficar na casa dele jogando por algumas horas. Lá eu joguei pela primeira vez jogos como Super Mario Bros., Mega Man, Excitebike, Ice Climber, Tennis, entre outros. Depois conheci muitos ótimos jogos nas locadoras, fazendo a locação de cartuchos nos fins de semana. Foi nessa época, quando já tinha meu Prosystem que comecei a me interessar pelas revistas especializadas nos games. Elas eram nossa fonte de informações, uma vez que não tínhamos acesso a internet, e as redes sociais só se popularizaram muito tempo depois.
Não me lembro exatamente qual foi a primeira revista que comprei, mas se não me falha a memória, uma SuperGamePower, edição número 01 de abril de 1994, com o Incrível Hulk bem verde na capa. É claro que, como em 1994 já quase não se falava mais do Nintendo 8 bits, era muito frustrante abrir uma revista e não ver nada nela do seu sistema favorito. Talvez alguns de vocês se identifiquem comigo. Pra falar a verdade, até tinha uma menção ao NES, com o jogo Tiny Toon Cartoon Workshop, mas era só. Isso era muito, muito pouco. Mesmo assim, lembro-me de tê-la lido todinha, babando com aquelas imagens de sistemas de última geração, como o Atari Jaguar, Sega CD e 3DO. Querer e não poder. Isso era mesmo frustrante. Lembre-se, essa revista do incrível Hulk era do começo de 1994, mas a adquiri em meados de 1995. Foi nesse mesmo ano que o Sega Saturn e o Sony Playstation foram lançados. Então, sistemas de 8 bits já eram mais que ultrapassados. Mas como era o único videogame que eu poderia ter, não havia outra saída senão buscar alguma informação ou novidade sobre o sistema. Mesmo assim eu estava feliz em poder jogar tantos bons jogos.
Foi então que, no início de 1996, de passagem por uma pequena banca de revistas, vi algo que me chamou a atenção nas prateleiras. Estava caminhando pelo centro da cidade onde moro até hoje. Lembro-me de estar acompanhando minha mãe, em direção à parada do ônibus. Eu costumava observar as bancas locais com suas muitas revistas, almanaques e gibis. Passando os olhos pelas publicações ali, vi um pacote fechado com algumas revistas de capa bem coloridas e chamativas. Esses pacotes não eram incomuns. As distribuidoras juntavam algumas edições encalhadas e vendiam por um preço especial.
Ao pegar esse pacote, percebi que eram revistas de videogame. E o melhor, eram revistas antigas. As famosas Videogame embaladas num plástico transparente para facilitar a leitura da capa. Eu sabia que nas revistas antigas eu teria mais chance de achar alguma matéria sobre jogos para meu querido NES. É claro que fiquei muito, muito interessado pelo pacote. Vi que o preço era uma fração de uma revista atual, e pedi para minha mãe comprar. Era uma época difícil, em que tínhamos pouco dinheiro. Mesmo assim, para minha alegria, ganhei as revistas! Fiquei muito feliz!
E certamente foram as melhores que já tinha adquirido até então. Não só porque eram ótimas revistas, coloridas e muito bem produzidas, com bastante dicas e conteúdo. Mas também porque eram mais antigas. Então, encontrei ali muita coisa sobre meu já defasado 8 bits. Nem todas as três eram assim tão antigas. Mas duas delas eram do início dos anos 90, época que o NES ainda estava em seu auge por aqui!
Com o passar do tempo e quase 30 anos depois, essas revistas se perderam. Mas, outro dia desses, ao olhar algumas capas da Videogame, me lembrei dessa ocasião tão especial, quando comprei minhas primeiras revistas. Então venha comigo relembrar essas três edições incríveis de uma das melhores revistas especializadas em games no Brasil. Mas antes, vamos conhecer um pouquinho da história da Videogame!
Idealizada a partir do final de 1989, pelos editores Roberto Araújo e Mário Fittipaldi, a revista Videogame tinha um objetivo: falar com um público masculino composto por crianças e adolescentes, trazendo dicas e novidades daquilo que era a febre do momento - os videogames. Com o estouro do mercado no Brasil, ocasionado pela chegada da Sega representada pela Tec Toy, e do Nintendo 8 bits através dos mais variados clones nacionais, a quantidade de jogadores cresceu exponencialmente. Com isso a procura por informações sobre novos jogos, sistemas e acessórios aumentava. O videogame se tornou o sonho de consumo de todo jovem menino.
Roberto Araújo, que já trabalhava na edição de uma revista produzida pela editora Sigla, chamada Duas Rodas, depois de uma breve conversa com seu editor chefe, José Silveira, decide aceitar o convite para dar início a um novo trabalho - produzir uma revista sobre os brinquedos do momento.
Segundo seu relato para o canal START UOL, ele não entendia nada sobre os jogos eletrônicos. Ele nem ao menos sabia o que significavam as palavras “Sega ou Nintendo”. Mesmo assim, sua resposta foi um sim. Nascia a mais nova revista brasileira, uma que levaria muitos jovens e adolescentes novamente às bancas de jornais: a revista Videogame!
Sem nunca ter feito nada parecido, Mario Fittipaldi, na época ainda um estudante de jornalismo, também recebeu seu convite em particular para a trabalhar na revista. Como era o único que tinha algum conhecimento sobre os jogos da televisão, a equipe editorial não teve dúvidas em apontar seu nome para a nova revista.
Naquele tempo, revista de videogame era coisa rara, e o mercado ainda era um mistério para os jornalistas e redatores. Encontrar alguém que entendesse de videogame com idade suficiente para assinar a carteira de trabalho era um desafio. Mas, foi nesse cenário repleto de novidades e descobertas que a publicação foi forjada, tornando-se um modelo para outras que viriam à frente.
Ainda sem muitas regras ou padrões bem definidos dentro do mercado editorial nacional, a saída foi comprar algumas revistas estrangeiras, como a Electronic Gaming Monthly e Game-Pro, para servir como base para a diagramação e conteúdo das novas edições do periódico. Outra estratégia adotada foi contatar e visitar várias locadoras da região, para conhecer os jogos e o que os jogadores mais gostavam. Uma equipe ia de locadora em locadora em busca de novidades e boas conversas com proprietários e jogadores, para entender a maneira de pensar do público alvo. Mesmo com recursos muito limitados, a revista que começou com vendas modestas, não demorou pra cair no gosto dos brasileiros. Com a contratação de jovens pilotos para jogar os jogos do momento e descobrir os muitos segredos e dicas, agora o público alvo tinha com quem se identificar dentro da publicação. Como seu principal jogador piloto, a Videogame descobriu um jovem muito habilidoso chamado Toni Cavalheiro. Ele foi encontrado coincidentemente em uma das muitas locadoras de videogame da época e convidado para trabalhar junto com a equipe editorial.
Comprada, lida e relida e compartilhada nas locadoras, no intervalo escolar e até entre vizinhos, cada vez mais jogadores conheciam a nova revista que falava sobre seu brinquedo favorito. Com grande facilidade em falar com seu público alvo, crianças e adolescentes do sexo masculino, suas vendas chegaram a mais de 100 mil unidades por mês. (videogame 56) Mais tarde, com a entrada da seção sobre jogos para computador, a partir da edição de número 40, por volta de junho de 1994, a revista passou a se chamar Vídeo Game News. Pode se ver uma mudança na capa da revista, com as letras do título agora escritas com um novo design. A diagramação recebeu uma nova cara, mais limpa e objetiva, agora computadorizada. A partir daí as opiniões se dividem. Alguns dizem que a seção para computadores pessoais enriqueceu o conteúdo do periódico. Outros alegam que a revista perdeu contato com seu público alvo. Verdade é que a revista Videogame não durou muito depois disso, encerrando suas atividades em julho de 1996, após 5 anos de trabalho e 63 edições nas bancas, durando bem menos que outras, como a Ação Games e SuperGamePower, uma fusão entre as SuperGame e GamePower.
Voltando agora para minha história, vamos descobrir e relembrar as edições que fizeram parte daquele pacote. A primeira e mais antiga das três revistas Videogame que compunham o pacote era a edição número 4, de junho de 1991. Que revista incrível! Aquela capa com Bart Simpson era sensacional. Eu ficava babando com aquelas matérias sobre jogos para o NES, Master System, Mega Drive e até mesmo Atari, visto que eu também tinha um, só que não funcionava. Havia também as novidades do mundo videogame, como o U-Force, um tipo de controle por movimentos que lembra os controles modernos como Wii Motion e os Joycons para o Nintendo Switch. Tinha também o portátil Atari Lynx e seus jogos coloridos.
A luva do poder ou power glove despertava fascínio em todo menino daquela época. Sim, aquilo tudo era novidade para mim, mesmo que fossem já defasados. E falando a verdade - quem de vocês nunca folheou uma das revistas daquela época com olhos brilhando por descobrir as novidades do momento? A revista também trazia a seção sobre as locadoras e cartas do leitor, que eu lia uma por uma. Também dava uma olhada nas dicas para ver se tinha algum jogo conhecido. Mas o mais legal naquilo tudo era ver as reviews dos jogos que eram acessíveis para mim na época. Jogos que eu poderia encontrar com algum colega de escola, algum primo por perto e nas locadoras.
Outra revista que veio no pacote foi a edição de número 15, com a capa Lemmings, todas as dicas para salvar estas estúpidas criaturas. Como esquecer essa bela capa. E como esquecer o Index, onde sempre aparecia uma ilustração super criativa com o mascote da revista. Na seção Bits uma matéria anunciava que qualquer um poderia importar um sistema de videogame de outro país. É claro que isso era inacessível para mim. Naquela época um console de 16 bits era simplesmente fora da realidade. Videogames como Mega Drive ou Super Nintendo eram muito caros, e um privilégio para alguns. Um breve artigo na página 7 anunciava o Mega Dois em Um, um Sega CD e Mega Drive no mesmo aparelho, que, segundo a revista, tinha um visual mais moderno, leve e compacto - o Wondermega. Eu ficava imaginando como era ter um videogame daqueles, com jogos em CD. Naqueles dias eu não poderia ter nem ao menos um CD player de música. Hoje quem precisa de um? Mas em 1996 um videogame baseado em CDs não passava de uma realidade distante, que apenas alimentava minha imaginação. Era possível notar que, até essa edição, era muito evidente o trabalho quase que artesanal na diagramação da revista, com textos datilografados, telas de tv fotografadas e ilustrações desenhadas à mão.
A terceira revista a compor o pacote era a Videogame de dezembro de 1994, uma edição mais recente que as duas anteriores. Na capa, dois jovens nojentos chamados Beavis & Butt Head. E já nas primeiras páginas era possível ver uma propaganda do jogo do momento, Donkey Kong Country. Eu gostava muito de ver aquelas imagens fantásticas de Donkey Kong. Sonho de consumo. A revista começava dizendo: “Selvagem! Animalesco! Assim é Donkey Kong Country, o grande lançamento para Super Nintendo. Mas os adjetivos caem como uma luva também para Beavis & Butt-Head, para Mega Drive. Donkey Kong volta ao cenário dos games com um esbanjo de tecnologia: os gráficos, totalmente desenhados por estações gráficas Silicon Graphics, são nota 11.”
Na página 7 o destaque eram os primeiros jogos para o acessório 32X, como Virtua Racing, Doom e Star Wars Arcade. Outra coisa que me marcou muito nessa revista foi a propaganda da Tec Toy para um controle por movimentos para o Mega Drive, chamado Activator. Aquilo parecia muito legal. Bem, hoje sabemos que não funciona muito bem. Mas seria uma ideia aprimorada anos depois. Eu não poderia ter nada daquilo, mas gostava de ler sobre tudo, para que assim, como que virtualmente, pudesse desfrutar um pouco daquele conteúdo.
Enfim, essas são algumas das minhas lembranças com as revistas Videogame nos anos 1990. Lí e relí muitas vezes essas edições, sonhando com, um dia, ter aqueles sistemas de videogame de última geração. Felizmente no ano de 1997, depois de muita persistência, ganhei um Super Nintendo. Bem, em 97 o SNES já não era mais um videogame de última geração. Mas de qualquer maneira fiquei muito feliz em poder jogar tantos jogos que antes só via nas revistas, locadoras ou casas de colegas. Enfim, hoje entendo que o mais importante de tudo não eram os videogames, e sim, as experiências que nos proporcionaram. Muito obrigado por me escutar e conhecer um pouco das minhas lembranças. Obrigado também por assistir até o final. Não esqueça de contar sua história com as revistas de videogame na cidade onde mora! Você poderá também conferir essas três edições no site história dos videogames.com. O link vai estar na descrição desse episódio. Até o próximo!