Quanto custavam os videogames no Brasil no início dos anos 90

Olá pessoal! Sejam bem vindos ao canal História dos Videogames. Se você viveu no final dos anos 1980 e início de 1990, certamente terá lembrança de algum dos aparelhos que veremos aqui. 

Quais sistemas de videogame estavam disponíveis aos brasileiros e quanto custavam? A revista Videogame, na sua primeira edição, veiculada a partir de março de 1991, trouxe uma matéria bastante interessante, intitulada: CONSOLES, a terceira geração de games chega para agitar a telinha. Neste artigo, a publicação abordou os consoles de videogame que estavam disponíveis na época. A base desses aparelhos eram os sistemas Nintendo NES, Sega Master System e Atari 2600. O Mega Drive, lançado em setembro de 1990 não foi listado na publicação, mas em breve veremos um pouco mais sobre ele. Para compreender melhor o que era dispor de um destes sistemas no início dos anos 90, vamos fazer a conversão dos valores veiculados em anúncios locais. A moeda em uso no Brasil entre 16 de março de 1990 e 31 de julho de 1993, segundo o ipeadata, era o Cruzeiro. Então, todos os valores que veremos aqui estão nessa moeda. Então, vamos lá!

A matéria publicada na revista Videogame começa dizendo: “Num mundo distante, muito estranho, uma princesa está presa em um castelo e precisa ser libertada depois de muitas "brigas de rua". Ou, em uma emocionante viagem espacial é necessário enfrentar todos os tipos de naves que o atacam. Uma pistola de raio laser pode ser uma excelente aliada, e por vezes até se transformar em um rifle, evitando, por exemplo, que ladrões assaltem um banco. Estas são apenas algumas das fantasias que a chegada dos videogames de 3º geração trouxe para dentro de casa. E, para salvar princesas, guerrear pelo espaço, correr de carro ou moto ou mesmo combater todos os tipos de quadrilha, não é preciso ser super-herói. Basta ter habilidade e treinar. Para participar dessas aventuras é só ter um videogame. Depois dos videogames de 1º e 2º gerações, dos quais o maior sucesso foram os Atari, os de 3º geração começaram a chegar ao Brasil a partir de maio de 1989. O primeiro a ser nacionalizado foi o Dynavision II, da Dynacom. (observe-se aqui que o Dynavision é um produto nacional) Ai, uma nova palavra mágica chegou: Nintendo!

Os muitos consoles que usam o sistema Nintendo lideram o mercado mundial com 80% de participação. No Brasil estão representados pelo Dynavision II, Phantom System, Top Game, Hi-Top Game e Bit System. Há também o sistema Sega, utilizado pelo Master System. Os dois sistemas, Nintendo e Segal, são de 3º geração e é fácil entender o sucesso. Os jogos passaram a ser mais ágeis e com nitidez de imagem muito maior que os de 2 geração. Utilizam um grande número de "pixels" (cada ponto que forma o desenho na tela) e podem ser programados com até 64 cores. Além disso, existem três canais independentes de som, além dos ruídos característicos. Os jogos possuem músicas de ação que variam de acordo com os obstáculos vencidos ou o gosto do jogador. O responsável por tudo isso, claro, é um microprocessador, o "cérebro" do videogame. O microprocessador é um pequeno componente, o "chip", que comanda todas as operações do videogame como um computador. Utilizado desde os videogames de 2º geração do padrão Atari, o "chip" transformou cada console em um aparelho parecido com um computador, com capacidade de "ler" programas que são os jogos nos cartuchos, e executá-los, mudando constantemente as alternativas dos jogos conforme o desempenho do jogador.

Iniciando com os sistemas Nintendo, a revista traz algumas características técnicas do 8 bits: Para que as cenas e a ação aconteçam na tela da TV, e o jogador interfira nelas há todo um esquema técnico. Os consoles com tecnologia Nintendo utilizam um microprocessador da marca Motorola ou equivalente, o 6502, de 8 bits igual ao utilizado pelos computadores norte-americanos Apple. Para quem gosta de informações técnicas, a resolução gráfica é de 256 x 240 pixels", isto é, a divisão dos pontos da tela do Televisor), e os jogos têm até quatro megabytes de memória (capacidade de armazenamento de informações).  Na época, a Nintendo não tinha um representante oficial por aqui, então os consoles, ou tinham que ser importados, ou apelar para os clones fabricados no mercado nacional. A revista argumentou:

“Existe a possibilidade de se trazer consoles da marca Nintendo (japonês ou americano) do Exterior, como o Paraguai ou Miami (EUA). Mas pode surgir um problema técnico: se o console não for destinado ao mercado brasileiro que usa o sistema de cor PAL-M nos televisores, o jogo fica em preto e branco, já que o sistema usado nos EUA e Japão, por exemplo, é NTSC. É possível uma transcodificação (adaptar o sistema de cores NTSC para o brasileiro PAL-M), só que ela pode ficar um pouco cara, não valendo muito a pena. Quanto aos jogos (cartuchos) vindos do Paraguai, ou EUA, aparecem em cor sem qualquer problema desde que o console transmita em PAL-M. 

Bit System

Bit System

O primeiro sistema apresentado pela revista é o Bit System:

O Bit System utiliza o padrão Nintendo americano e é produzido pela Dismac, afirmou a revista. Possui sistema para se colocar o cartucho semelhante ao dos videocassetes -a fita fica dentro do console, protegida contra danos. É o único entre os nacionais que oferece controles sem fios, que operam por sistema de controle remoto, facilitando a movimentação dos jogadores. Tem pistola laser, que pode ser comprada à parte”.  E quanto custava um sistema Bit System em 1991? O Jornal do Brasil de 5 de janeiro deste mesmo ano, afirmou que o Bit poderia ser encontrado na Casa e Video, Rua Riachuelo, no Rio de Janeiro. O console nacional saia por Cr$21.900,00. Um adaptador para cartuchos japoneses poderia custar Cr$2.000,00.  Agora vamos fazer a conversão, para entendermos melhor seu valor. Com base no IPC Brasil, um Bit System que custava Cr$  21.900,00 cruzeiros em 1991, com seu valor convertido, custaria em 2023 em torno de R$   1.269,52 reais. Um adaptador custaria em torno de R$115,94.

Dynavision II

Dynavision II

Este foi o primeiro clone de NES lançado no Brasil pela marca Dynacom. A marca também produzia um clone do Atari 2.600 chamado de Dynavision 1. É interessante notar qua a carcaça desse primeiro clone de nintendinho é idêntica ao modelo anterior, mudando apenas as cores. Sobre o Dynavision a revista afirmou:

“Dynavision II Padrão Nintendo japonês, fabricado pela Dynacom tem "joysticks" de controle tipo bastão anatômicos de precisão. Como acessório pode ser conectado também uma pistola "laser", utilizada em alguns jogos. A revista dizia que o Dynacom II tem jogos em três dimensões, para os quais são utilizados óculos especiais com lentes vermelhas e verdes, bastante simples e que são dados como brinde na compra do cartucho de 3 dimensões. O console vem em uma maleta plástica, com espaço suficiente para os controles e vários cartuchos.” O Dynavision era vendido, segundo o mesmo jornal carioca, de janeiro de 1991, por Cr$24.600,00 cruzeiros na loja Video Game Center, na Rua Conde de Bonfim 346, sala 207. Com valores convertidos, o custo desse aparelho hoje seria em torno de R$   1.426,04, um valor ligeiramente razoável, levando em conta que era um sistema de última geração por aqui, até a chegada dos primeiros 16 bits. É claro que em outros mercados, como o Japonês, esse já era um sistema bastante ultrapassado. O jornal ainda afirmou que “Na mesma loja, há um acervo enorme de cartuchos compatíveis com todos os aparelhos e preços de aluguel entre Cr$ 110 (Master), o que seria hoje pouco menos de R$6,00 reais, a Cr$ 200 (Mega Drive), pouco menos de R$14,00 reais, por 24 horas. Para venda, as fitas mais procuradas eram Double Dragon, a Cr$ 9.980, em torno de R$   578,53 e Super Mario 3, Crs 10.850, em torno de R$   628,97 entre alguns outros jogos.

Hi-Top Game

O próximo clone citado pela revista Videogame é o Hi-Top Game:


“Hi-Top Game" - Padrão Nintendo americano, fabricado pela Milmar. Possui "joysticks" de precisão. Oferece como opcional a pistola laser.” Quanto custava? 

Em 03 de julho, o diário Jornal do Brasil trouxe o seguinte texto na sua seção de informática: “Milmar está colocando no mercado nacional e sul-americano seu novo videogame Hi Top Game, que já vem com joystick do tipo manche de avião e que utiliza cartucho de jogos compatíveis com os do videogame Nintendo. A própria Milmar está produzindo estes cartuchos através de licenciamento. O preço do Hi Top Game é de CrS 40 mil e a Mimar garante que vai vender os cartuchos por preços 30% inferiores aos do mercado. Aqui podemos ver como a inflação abocanhava o valor da moeda brasileira rapidamente. É claro que o salário do trabalhador deveria também acompanhar a desvalorização do dinheiro, pelo menos na teoria. Enquanto em janeiro um videogame médio custava de 20 a 25 mil, aqui o Hi Top Game já chegava aos Cr$40.000,00 cruzeiros. Seu custo seria em torno de R$ 1.149,04 reais, um preço um pouco abaixo dos anteriores. Isso mostra que com a chegada de aparelhos mais modernos no mercado, a tendência é a diminuição do custo de tecnologias ultrapassadas para a venda no varejo. 

O Phantom System

O Phantom System

O Phantom System

Sobre o sistema da Gradiente, a revista foi direto ao ponto: “O Phantom System, de padrão Nintendo americano, é fabricado pela Gradiente. Os controles são anatômicos e precisos. Como opcional pode ser conectada também a pistola laser LG-8, utilizada em alguns jogos”.  Sabemos que o Phantom foi um dos primeiros consoles padrão NES no Brasil, e também um dos mais vendidos. Era possível ver anúncios de vendas do Phantom em folhetos de várias lojas da época. Em um anúncio veiculado em 03 de junho de 1990, o sistema da Gradiente não saia por menos de Cr$12.890,00 cruzeiros, em torno de R$ 1.952,52 nos valores atuais. A sua pistola leve, a Laser Gun LG8, era vendida por pouco menos de Cr$5.000,00 cruzeiros, em torno de R$ 757,38 reais. Para fins de comparação, um Atari 2600 da Gradiente, em dezembro do mesmo ano, poderia ser encontrado por Cr$12.400,00 cruzeiros, o que seria em torno de R$ 854,46 reais. Um leitor de discos compactos custava mais de 50.000 cruzeiros, ou R$   3.445,40 reais. Nesse período, a inflação era tão grande, que em dezembro de 1991, o Phantom já custava mais de 167.000 cruzeiros. 

Top Game VG 9000

Top Game VG 9000

O último sistema deste vídeo, o Top Game VG 9000, também um clone Nintendo 8 bits, estava disponível em todo o Brasil, sendo produzido pela marca CCE. A principal diferença deste console era seu Double System (ou Sistema duplo") que o tornava compatível com os dois tipos de cartuchos Nintendo (japonês e americano). Seu conversor de tensão (110-220 volts) era embutido no aparelho, eliminando aquela "caixinha" normalmente ligada na tomada. Também possuia como opcional a pistola laser para jogos em que ela era necessária. Seu preço….? Pasmem! Com toda a inflação do período, a quantidade de zeros assusta: Um VG9000 Turbo, em determinado anúncio de 1º de julho de 1993, custava, à vista, Cr$4.990.000,00 cruzeiros. Convertido pelo poder de compra do consumidor da época, esse valor sairia hoje por aproximadamente R$ 681,22. Porque o valor é menor? Um dos motivos é que os valores das marcas variam bastante. Outro fator a ser levado em conta é que em 1993, a Nintendo já estava entrando no mercado nacional com seu sistema de 16 bits, e a TecToy já comercializava seus sistemas de última geração há pelo menos 4 anos. Isso, naturalmente, fez com que o valor de clones como o VG9000 tivesse seu preço reduzido para concorrer com aparelhos mais modernos.

Esses eram alguns dos videogames padrão Nintendo, mais conhecidos como clones, vendidos por aqui no começo dos anos 1990. Como estávamos atrasados no quesito tecnologia, e até meados de 1993 não havia uma distribuição Nintendo oficial no Brasil, aparelhos como o Super Nintendo nem ao menos apareciam nos anúncios das lojas locais. Se você quisesse ter um, seria necessário importá-lo. Os anúncios da Playtronic chegariam na mídia nacional apenas na segunda metade do ano de 1993. Os clones do NES no Brasil foram um fenômeno muito importante para o mercado nacional de videogames. Eles surgiram quando a Nintendo não mostrava interesse em lançar seu console no país. Por serem mais baratos do que o NES original, se tornaram populares entre os jogadores brasileiros, da mesma forma que os clones do Atari 2600 antes deles.