Joseph Maghrabi e o sócio José Guerreiro, fundaram a Canal 3 Vídeo Clube Ltda. no ano de 1981. A Canal 3, uma das primeiras e mais conhecidas locadoras de games do Brasil na segunda geração de videogames, foi pioneira na fabricação de cartuchos "alternativos" do Atari 2600. A loja que também alugava filmes em VHS, ficava na Rua da Consolação, 3557, no bairro da Consolação, perto da Av. Paulista. O rápido aumento dos cartuchos fabricados por aqui impulsionou o desenvolvimento desse novo negócio que se espalhou quase que em um piscar de olhos. Os chamados clubes de vídeo, ou simplesmente locadoras, eram estabelecimentos que alugavam cartuchos e consoles. As locadoras também funcionavam como clubes e centros de convivência, pois reunia a criançada para partidas e campeonatos, com muitos prêmios. Mas como funcionavam esses clubes de vídeo? Normalmente a escolha dos jogos se dava por meio de uma espécie de fichário afixado à parede, juntamente com dezenas de fichinhas coloridas, que continham os nomes e, muitas vezes, uma breve e precária descrição do jogo. Em vez de ter acesso ao cartucho, ou à caixinha diretamente, o locatário apanhava a ficha – de acordo com o título do jogo escolhido – e a entregava ao balconista que, então, separava o cartucho. Depois de acondicioná-lo em uma pequena caixa plástica de proteção, o entregava ao cliente. Em alguns casos, colocava-se até o manual de instruções no verso da caixa. Nas locadoras costumava haver também um ou mais consoles para que a pessoa experimentasse os jogos no local, e a decoração desses estabelecimentos costumava ser feita com pôsteres e com caixas vazias de cartuchos americanos. Não raro, o novo associado deveria adquirir uma “jóia”, na forma de um ou dois cartuchos ou em dinheiro, que segundo o costume da época, fosse entregue ao clube para poder usufruir dos serviços. O negócio das clube locadoras se popularizou rapidamente nos centros urbanos. No eixo Rio-São Paulo, em especial na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, e na região dos Jardins, perto da Av. Paulista, duas ou três locadoras viraram dezenas em questão de meses. O mesmo aconteceu em muitos outros lugares do país.
Aos poucos, as locadoras foram mudando, e no final dos anos 80 já havia muitos outros sistemas nas locadoras de games, agora abastecidas por clones brasileiros do Nintendinho, que ainda não era fabricado no Brasil devido à lei de reserva de mercado, e por cartuchos do Master System da TecToy. Com o crescimento do negócio, a coisa foi ficando mais séria e surgiram as primeiras grandes cadeias de locadoras. A mais famosa delas, a Progames, praticamente padronizou um modelo de como toda locadora deveria ser, da estrutura interna a regras de convivência com os clientes. Ela tinha inclusive a própria revista com várias dicas e segredos dos games mais quentes.
Lembro-me das primeiras visitas a uma locadora de games no final dos anos 1980, talvez 1989. Na época, o videogame da moda na cidade onde eu morava ainda era o Atari 2600. Eu era criança, e mesmo assim já sabia escolher meus jogos favoritos. Se bem que os cards para os pequenos cartuchos do 2600 não eram uma boa base para escolha. Suas ilustrações nem sempre refletiam o que estava no jogo. Não raro, o jogo escolhido era uma grande decepção. Algumas vezes, nem ao menos entendia sua jogabilidade.
Lembro-me de ter alugado ou “emprestado fitas”, várias vezes na época do Atari. Gostava de jogar Enduro, River Raid, e uma fita de 4 em 1, que tinha alguns jogos de esportes, como boxe, tênis, esqui e outro que não me lembro mais. Tinha também o jogo do canguru, que eu não conseguia passar da segunda fase. Meu console vivia dando problema e tinha que visitar a assistência técnica direto. Não sei o que acontecia com ele.
Essa locadora, chamada de Tape Clube, ficava na esquina entre as ruas Cel. Francisco Ribas e Cel. Theodoro Rosas, na cidade de Ponta Grossa, no Paraná. Não tenho informação da data de abertura dessa ou de outras game locadoras na cidade, para dizer quando elas começaram a aparecer, mas acredito que a Tape Clube tenha sido uma das primeiras a fazer a locação de cartuchos juntamente com os VHS. Ao certo, acredito que elas começaram a aparecer por volta de 1985 ou 86.
Assista ao vídeo: As antigas game locadoras no Brasil, do canal História dos Videogames!
Depois de alguns anos, lá por 1995, quando eu já tinha um clone do Nintendo 8 bits, passei a frequentar outras locadoras de games. Nessa época, o Super Nintendo estava no seu auge. Sistemas como Master System e Mega Drive estavam presentes nas locadoras, mas sempre em menor número. Mesmo com a quantidade de cartuchos para o SNES a aumentar, o NES ainda contava com uma boa quantidade para escolha. Como era o ambiente em uma locadora da época?
Primeiro, uma infinidade de sons invadiam os ouvidos. Os gritos da torcida de International Superstar Soccer, a inconfundível voz de Ryu disparando o seu hadouken em Street Fighter ou trilha sonora de Top Gear. No balcão, doces, salgados e todo tipo de guloseimas para acompanhar a jogatina. Depois, encarando uma enorme parede com dezenas de jogos enfileirados, era hora de escolher sua próxima aventura. E eram tantos jogos! Toda locadora que se prezasse tinha que obrigatoriamente ter alguns deles, como Super Mario, Top Gear, Mortal Kombat, Street Fighter, Superstar Soccer, Streets of Rage… era praticamente impensável entrar em um desses lugares e não encontrar as caixas desses games na parede, esperando para serem escolhidas.
É claro que, a sexta feira sempre era um dia muito aguardado. Não só porque teríamos dois dias de folga da escola, mas em especial pelo fato de poder emprestar duas fitas e ficar todo o fim de semana jogando. Como meu primo, que morava perto de casa, também havia comprado um ProSystem 8, exatamente igual ao meu, íamos juntos pra escolher as fitas. Pegava-mos dois ou três cartuchos e dividíamos o custo da locação. Nessa época não íamos mais à Tape Club. A locadora da vez era a Speed Games, que não tinha uma quantidade exorbitante de fitas, mas dispunha de alguns bons títulos. A Speed ficava na Rua 15 de Novembro, em um pequeno centro comercial, também na cidade de Ponta Grossa. Alí emprestamos muitas fitas nos anos de 1995 e 96, o que rendeu muita diversão com nossos nintendinhos. Jogos como Mega Man 3, 4, 5, DuckTails, Super Mario, entre outros. Apostava-mos mais em títulos seguros, arriscando às vezes um nome desconhecido. Quando o jogo era bom, era diversão garantida durante o sábado e domingo. Mas quando o jogo era ruim… hum, então era só arrependimento pelo dinheiro jogado fora, e decepção na segunda por ter que gastar no ônibus pra devolver o cartucho.
Me lembro bem do dia que voltei na Tape Clube depois de muito tempo. Na verdade, achava que nem existia mais a locadora. Quando vi no painel o jogo Super Mario Bros. 3, resolvi pegar o cartão, mesmo com receio de que fosse algum hack daquelas do tipo antigo, das fitas 1.000 em um. Ainda não havia tido a oportunidade de jogar esse super clássico do NES. Mas depois que encaixei a fita e liguei o console, foi só alegria. O jogo era incrível! Nada assemelhava-se a ele no NES, nem mesmo os Mega Man, dos quais gostava muito. Super Mario 3 tinha muitas novidades, fases lindas e cheias de segredos. Além de bastante difícil e sem bateria ou password. Desligou o videogame já era!
Não consegui fechar o jogo nessa primeira locação. Mas na segunda sim. Com muito esforço, e depois de alguns dias, cheguei ao clássico mundo 8, o costumeiro mundo final nos jogos antigos de Mario. Depois de vencer Bowser, no castelo final, fazendo-o cair no calabouço, enfim pude assistir ao final. Poucas músicas são tão emocionantes como a tocada no final de Super Mario Bros. 3. Ainda continuo a apreciar e escutar essa música até hoje!
Depois disso, no final de 1996, como o nintendinho já era um sistema praticamente sem suporte pelas desenvolvedoras de softwares, sem novos títulos importantes, comecei a observar os preços para a compra de um Super Nintendo. Alguns comerciais na tv, da histórica Playtronic, com jogos como Super Mario Kart e Mario World em destaque, me ajudaram a decidir que gostaria de ter um Super NES. Consegui fazer a aquisição do console no início de 1997, ainda em janeiro, isso depois de muito insistir com minha mãe. A partir daí, comecei a locar cartuchos para meu Super Nintendo Playtronic. Conheci uma nova locadora, que ficava no caminho do colégio para casa. Ficava na esquina entre as ruas Minas Gerais e rua Bahia. Ali tive a oportunidade de conhecer muitos bons jogos para o SNES, como Donkey Kong Country e Yoshi 's Island. Ali também era possível jogar nas máquinas disponíveis por hora. Lembro-me de sempre ver os meninos da escola por ali.
Algum tempo depois, conheci a locadora Fire Games. Era a melhor que já tinha frequentado na cidade. Com uma infinidade de jogos para o Super Nes, era fantástico poder escolher games como Star Fox, Stunt Race, Super Mario RPG, entre outros. Lembro-me de ver ali também uma boa quantidade de CD 's para Playstation e Saturn, e alguns cartuchos de Nintendo 64. Essa foi a última locadora que conheci, visto que depois disso parei de jogar por algum tempo. E como a partir de 1999 os consoles com mídia baseada em CD 's já eram maioria, infelizmente as nossas casas de diversão começaram a afundar. Não era mais necessário fazer a locação, visto que era possível comprar os jogos piratas muito baratos. Então, aos poucos elas se acabaram em minha cidade, como no resto do país. Algumas duraram mais, outras menos, mas praticamente todas tiveram o mesmo destino. Infelizmente. Como disse Ítalo Chianca em seu livro sobre as antigas locadoras de games - eram verdadeiros espaços de sociabilidade para as crianças e adolescentes.
Essa foi uma breve lembrança da minha história com as game locadoras dos anos 80 e 90. Gostaria de contar a sua? Compartilhe nos comentários. Muito obrigado por assistir a mais esse episódio do canal História dos Videogames. Até o próximo!